CINEMA: INDIANA JONES E A RELÍQUIA DO DESTINO
Em Indiana Jones e a Relíquia do Destino, Indiana Jones (Harrisson Ford), famoso arqueólogo, professor e aventureiro, embarca em mais uma missão inesperada. Neste retorno do herói lendário, Indiana Jones, na quinta parcela da icônica série de filmes, encontra-se em uma nova era, aproximando-se da aposentadoria. Ele luta para se encaixar em um mundo que parece tê-lo superado. Mas quando as garras de um mal muito familiar retornam na forma de um antigo rival, Indiana Jones deve colocar seu chapéu e pegar seu chicote mais uma vez para garantir que um antigo e poderoso artefato não caia nas mãos erradas. Mas, desta vez, ele tem o sangue de uma nova geração para o ajudar nas suas descobertas e na sua luta contra o vilão Jürgen Voller (Mads Mikkelsen). Acompanhado de sua afilhada, Helena Shaw (Phoebe Waller-Bridge), o arqueólogo corre contra o tempo para recuperar o item que pode mudar o curso da história.
Costuma-se dizer que os heróis vivem para sempre – e com os da ficção não seria diferente. Fato é que, em algum momento, até o mais destemido (e bem-condicionado) deles precisa aposentar seu manto. É o caso de um certo arqueólogo que, por décadas, vem dividindo seu tempo entre dar aulas teóricas na faculdade e cruzar o mundo para impedir que artefatos históricos caiam nas mãos erradas. Sim, chegou a hora de dar tchau para Indiana Jones!
Depois de quatro filmes – Os Caçadores da Arca Perdida (1981), O Templo da Perdição (1984), A Última Cruzada (1989) e O Reino da Caveira de Cristal (2008) –, o personagem encarnado por Harrison Ford retorna para uma última missão em A Relíquia do Destino. Ambientado no final dos anos 60, o quinto longa começa com Indy afastado das aventuras de campo e prestes a se aposentar da vida acadêmica.
Tudo muda quando sua afilhada Helena Shaw (Phoebe Waller-Bridge) rouba um dispositivo inventado por Arquimedes e capaz de manipular o tempo – a Antikythera, mais conhecida como Relíquia do Destino. De volta à ativa para recuperar o objeto e salvar Helena, Indy descobre que não está sozinho na busca: o neonazista Jürgen Voller (Mads Mikkelsen), com quem teve um embate no passado, também quer se apossar do valioso item por um motivo nada nobre.
Uma questão de tempo
O grande problema em A Relíquia do Destino talvez seja o tempo – em todas as suas definições. Apesar de manter a tradição dos três primeiros filmes de ter o nazismo (agora neonazismo) como o “vilão” da história, acaba suavizando seu impacto ao misturá-lo com o contexto da Guerra Fria, quer dizer, com a rivalidade entre americanos e soviéticos – que também havia sido abordada em O Reino da Caveira de Cristal.
Além disso, é a primeira vez que a viagem no tempo é empregada na saga, com Indy indo parar em uma antiga civilização, depois de, no presente, ter passado por Estados Unidos e Marrocos. É claro que deslocamentos frenéticos sempre fizeram parte de Indiana Jones, que já usou como cenário Nepal, Egito, Índia, Itália, Alemanha, Jordânia, Peru e até a Amazônia. No entanto, A Relíquia do Destino causa um certo estranhamento ao recorrer, em seu terceiro ato, a elementos da ficção científica – algo que havia sido imensamente criticado em O Reino da Caveira de Cristal.
No que deveria ser um encerramento memorável para uma franquia de ação e aventura, os gêneros se embaralham. E o filme se alonga mais do que os anteriores (são quase 2h30 para um padrão de 2h) justamente para que essas muitas portas abertas sejam fechadas antes dos créditos finais. Assim, o roteiro de A Relíquia do Destino sofre com sua própria magnitude.
Uma anti-heroína, um vilão e uma estrela
É uma mudança válida que não haja um interesse amoroso para Indy no quinto longa, e que o papel feminino seja o de uma afilhada, a personagem de Phoebe Waller-Bridge. Certamente é uma forma de atualizar as representações de gênero na saga e evitar que a mulher seja uma mera coadjuvante, uma “donzela indefesa”.
Afinal, Helena Shaw se apresenta como uma trambiqueira que sobrevive na ilegalidade e tenta, inclusive, passar a perna no padrinho. Ela está acostumada a se colocar em perigo e se livrar sem a ajuda de qualquer homem – a não ser seu cúmplice, o adolescente Teddy (Ethann Isidore).
Apesar de toda a desenvoltura nas sequências de ação, Phoebe sabe interpretar uma “anti-heroína” como ninguém e, por isso mesmo, trouxe para sua Helena traços semelhantes, às vezes idênticos, aos de Fleabag, série criada e estrelada por ela mesma a partir de uma peça escrita e encenada por ela mesma. O tom sarcástico, a rapidez na fala, o olhar penetrante, o sotaque britânico… Talvez sejam marcas da direção, talvez do próprio roteiro. Em todo caso, parece que a quebradora de quarta parede foi dar uma voltinha com Indy.
O personagem de Mads Mikkelsen, por sua vez, não é tão poderoso quanto o bruxo Grindelwald de Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, nem tão louco quanto o professor Martin de Druk. Por mais que esteja associado ao nazismo e um plano bizarro de dominação mundial, Jürgen Voller instila mais fragilidade do que uma sensação de ameaça iminente. A impressão é de que Mads faz o que sabe fazer de melhor sem, contudo, sair de uma zona de conforto.
O destaque definitivamente vai para Harrison Ford. Seu Indy continua orgulhoso, teimoso e galanteador; por outro lado, se mostra bem mais vulnerável do que antes, trazendo no corpo as marcas do tempo – e das peripécias que viveu. Quando tudo ao seu redor parece lhe dizer que não tem mais idade para aquela vida de emoções, Indy coloca seu chapéu, amarra o chicote na calça e vai salvar o mundo. Nem que seja um último ato de heroísmo antes de adotar o pijama.