Zé Côco do Riachão: 26 anos de saudade
Zé Côco do Riachão contava que a Folia de Reis chegou em sua casa assim que ele nasceu. Talvez seja por isso o encanto e dedicação que ele, José “dos Reis” Barbosa dos Santos, sempre teve por essa manifestação de fé e cultura. Nascido e criado às margens do Riachão, no município de Brasília de Minas, Norte de Minas, Zé Côco viveu grande parte da vida no anonimato, realizando trabalhos manuais com madeira, incluindo o ofício de luthier, mas também trabalhando no campo e, as horas vagas, tocando em folias e forrós. Com uma vida simples, ele construía violas e rabecas, e compunha suas próprias músicas – aprendeu tudo sozinho.
Sua habilidade incomparável na construção de instrumentos e sua capacidade de extrair sons únicos de cada peça de madeira transformada em instrumentos musicais, fizeram de Zé Côco uma referência singular e despertaram o interesse do também músico Téo Azevedo, que na década de 1980 foi o responsável em divulgar o trabalho de Zé Côco. O artista lançou dois álbuns de estúdio e foi notícia em todos os grandes jornais do país, como a Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, Correio Braziliense, Estado de Minas, Hoje em Dia, e tantos outros. Ele também participou de vários programas de TV, sobretudo aqueles dedicados à música de raiz. Sua fama saiu do Brasil e foi parar em países da Europa, dentre eles, a Alemanha, onde recebeu, de uma TV local, o apelido de “Beethoven do Sertão”.
Um ano antes de sua morte, que ocorreu há 26 anos, em 13 de setembro de 1998, a cineasta Andrea Martins, que cresceu na comunidade em que Zé Côco vivia, também de nome Riachão, porém agora no município de Mirabela, começou a trabalhar na realização de um filme sobre a vida do artista. Sua última visita ao Riachão foi filmada por ela para ilustrar parte dessa história. No entanto, com a passagem do protagonista e a falta de recursos, o projeto foi engavetado. Mas o trabalho não parou. “Durante todo esse tempo reuni gravações, imagens, depoimentos, tudo que podia, com a esperança de, um dia, conseguir realizar o filme e não deixar esse legado desaparecer. Com um pequeno recurso recebido através de edital municipal do Sistema de Incentivo à Cultura (Sismic) de Montes Claros, pude recomeçar o trabalho, mas ainda temos um longo caminho para concluir o filme”, explica a cineasta e professora universitária.
O documentário, que inclui depoimentos de músicos, pesquisadores e familiares, é também uma homenagem à sua simplicidade e genialidade. A produção enfrenta desafios, e atualmente busca apoio em uma campanha de financiamento coletivo, para viabilizar as próximas etapas da produção. “Nossa maior despesa, hoje, está no licenciamento de imagens de arquivo. Apenas na Rede Globo, Zé Côco esteve em programas como o Globo Rural, Fantástico, Video Show e Som Brasil, além de outros canais e TV Isso, sem falar das reportagens de jornais e outras fontes que já localizamos. Esse material é fundamental para a construção do nosso filme, e ainda não temos o recurso necessário para obtê-lo”, revela a diretora.
O Sonho de Zé Coco: “ver esse filme pronto”
Para Luiza Rodrigues, filha de Zé Coco do Riachão, e que sempre o acompanhou em sua carreira, ver esse filme realizado é a concretização de um sonho que seu pai alimentava em vida. “Meu pai sempre falava que queria que as pessoas conhecessem mais a música dele, mas principalmente a forma como ele via o mundo. Ele queria que esse filme acontecesse. Ver a história dele contada de forma tão bonita é um presente para toda a nossa família. É um sonho meu também”, comenta emocionada.
Um dos destaques do filme será a participação do ator, cantor e compositor norte-mineiro Jackson Antunes, como narrador do documentário. Esse sempre foi um desejo da diretora, que chegou a abrir inscrições para selecionar o narrador. “Para nossa surpresa, o Jackson aceitou prontamente, pois sempre teve muita admiração e carinho por Zé Côco e, assim como nós, acha importante esse registro”, relata Andrea Martins.
A campanha de financiamento coletivo já está em andamento, e cada contribuição aproxima o projeto da realidade. “Atualmente temos um espaço na plataforma “apoia.se” (apoia.se/zecoco), mas o prazo para conseguir arrecadar o valor necessário, que se aproxima dos R$300 mil reais, está se esgotando. Atualmente temos apenas 1% da arrecadação. Essa é uma chance de colaborar com a preservação de uma memória cultural única, garantindo que as futuras gerações conheçam o som que brotou da terra – do nosso Norte de Minas – pelas mãos de Zé Coco do Riachão”, reflete Andrea Martins. É importante ressaltar que qualquer pessoa pode colaborar, e com o valor que puder. “Zé Côco do Riachão tem milhares de admiradores pelo país a fora. Se cada um doar R$10,00 que seja, conseguiremos concluir nossa produção”, finaliza a cineasta. (Ascom V.A.)