ADOLESCÊNCIA

 ADOLESCÊNCIA

SINOPSE – A vida da família Miller muda drasticamente quando Jamie (Owen Cooper), de 13 anos, é preso sob a acusação de assassinar uma colega de escola. Seu pai, Eddie (Stephen Graham), luta para compreender o que aconteceu, enquanto a psicóloga Briony Ariston (Erin Doherty) tenta desvendar a mente do garoto. O inspetor Luke Bascombe (Ashley Walters) lidera a investigação, determinado a descobrir a verdade por trás do crime. À medida que o caso avança, segredos são revelados e a linha entre inocência e culpa se torna cada vez mais tênue. A pressão da mídia e a opinião pública transformam a vida dos Miller em um pesadelo, colocando em xeque os laços familiares e a confiança entre pai e filho. Dirigida por Philip Barantini, a série marca mais uma colaboração entre ele e Stephen Graham, após o elogiado O Chef. Com uma abordagem intensa e realista, Adolescência explora o impacto devastador de uma acusação tão grave na vida de uma família, deixando no ar a pergunta: o que realmente aconteceu?

Crítica
Poucas minisséries atraíram tanto o olhar do público nos últimos meses quanto a produção da Netflix Adolescência. O sucesso não é por acaso: a trama britânica chama atenção para a radicalização de jovens no ambiente online, com foco em comunidades misóginas.

A produção conta a história de um adolescente de 13 anos, Jamie Miller (Owen Cooper), acusado de assassinar uma colega de escola, Katie Leonard. Um dos termos apresentados na série é incels, que faz uma referência aos celibatários involuntários (do inglês involuntary celibates), que culpam as mulheres por não terem uma vida sexual satisfatória.

Neste universo, propaga-se a teoria 80/20, em que 80% das mulheres sentiriam atração por apenas 20% dos homens, deixando os outros sem oportunidades de satisfação amorosa. Na minissérie, Katie Leonard, antes de ser assassinada, comenta em uma foto no perfil de Jamie Miller no Instagram um emoji que faz referência aos incels.

A linguagem e a dinâmica dessas comunidades, no entanto, parecem ser de outro planeta quando os pais, os educadores e os investigadores tomam conhecimento do caso. É o filho do investigador Luke Bascombe (Ashley Walters) que chama a atenção do pai para o que se passa no mundo online. “Não está indo bem porque você não está entendendo. Você não está lendo o que eles estão fazendo, o que está acontecendo”, diz o filho ao investigador.

Em tempos em que streaming se tornou um oceano vermelho de séries e filmes, é de uma satisfação ímpar encontrar um produto que, mesmo dentro do serviço mais popular e povoado de todos, se torna algo diferente de tudo que é lançado. Adolescência, nova série da Netflix, é um destes casos, assim como foi Bebê Rena no ano passado. Produzido por Stephen Graham, que também é o protagonista, e Jack Thorne, showrunner de Cidade Tóxica, a minissérie fala sobre um crime no interior da Inglaterra onde o suspeito é um jovem de 13 anos.

Durante os quatro episódios, todos filmados em planos-sequência (uma cena sem nenhum corte), a história explora as facetas de todos os personagens envolvidos, mas o faz assumindo que as respostas estão claras – ao menos sobre os culpados. A questão principal é o entorno, o contexto e o papel de cada pessoa no caso. Não se entregar para o simples mistério e enveredar para um tradicional true crime de streaming torna Adolescência muito mais do que um drama criminal, pois a realidade da trama se baseia nas reações e constante provocação do roteiro com o espectador.

Em nenhum momento as atuações de Graham ou qualquer outro membro do elenco extrapola a simples noção de choque de estar envolvido em algo escabroso como o crime discutido. A família, a princípio, nega, reluta, mas invariavelmente entende, até que começa, no meio do cotidiano, a procurar a própria culpa. A polícia preza pela objetividade, mas nas nuances da investigação se entende também como um elemento humano, alheio às mudanças de comportamento e incapaz de acompanhar a interação da juventude com redes sociais. Por fim, os jovens envolvidos, sempre alheios à gravidade do assunto, são transmissores de um contexto social que lida com a liberdade como forma de opressão, transformando traumas em gatilhos nocivos e discordâncias rituais de seita.

A condução da narrativa, pautada pelos planos sequência brilhantemente orquestrados por Philip Barantini (parceiro de Graham no ótimo Boiling Point), potencializa cada aspecto do roteiro, mas principalmente a agonia realista de viver numa situação como aquela. As cenas de 50 minutos se justificam não só pela crescente tensão, mas também pela transformação dramática dos protagonistas, que negam a entender o acontecido e aos poucos sucumbem a uma auto-análise devastadora. Acompanhar essas mudanças de forma tão visceral torna impossível não se questionar sobre as próprias atitudes, fazendo de Adolescência um dolorido mergulho na relação mais essencial da sociedade: pais e filhos.

 

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